Ruy Belo nasceu em S. João da Ribeira, pequena aldeia do concelho de Rio Maior, em 1933. Foi aluno do liceu de Santarém e cursou Direito, primeiro na Universidade de Coimbra, depois na Universidade de Lisboa, onde se diplomou em 1956. De partida para Roma, doutorou-se em Direito Canónico na Universidade de S. Tomás de Aquino. Em Lisboa, viria a frequentar também a Faculdade de Letras, terminando em 1967 a licenciatura em Filologia Românica. Além de actividade no domínio editorial, Ruy Belo foi também professor. Leitor na Universidade de Madrid desde 1971, regressou ao país em 1977, vindo a falecer de modo súbito no ano seguinte.
Nome de destaque na poesia portuguesa contemporânea, exerceu igualmente intensa actividade de ensaísta e crítico literário. Da sua obra poética fazem parte Aquele Grande Rio Eufrates (1961), Boca Bilingue (1966), Despeço-me da Terra da Alegria (1977).
A Obra Poética de Ruy Belo encontra-se reunida em dois volumes publicados pela Editorial Presença, com organização e comentários de Joaquim Manuel Magalhães. Os livros do poeta estão a ser reeditados pela mesma editora. Um volume único com toda a obra poética, significativamente intitulado Todos os Poemas, foi ainda recentemente dado à estampa pelo Círculo de Leitores (2000) e pela Assírio & Alvim (2001).
deixo aqui um poema de Ruy Belo que eu gosto muito:
"Os pássaros começam onde as árvores acabam Os pássaros fazem cantar as árvores Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal Como pássaros poisam as folhas na terra quando o outono desce veladamente sobre os campos Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores mas deixo essa forma de dizer ao romancista é complicada e não se dá bem na poesia não foi ainda isolada da filosofia Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros Quem é que lá os pendura nos ramos? De quem é a mão a inúmera mão? Eu passo e muda-se-me o coração"
Meu caro JSM, estou com um pequeno problema para resolver que é este: Já não sei se venho aqui pelas suas escolhas poéticas, se pelas suas fotos, ou se, simplesmente, só cá venho para encontrar esta gente bonita e talentosa que aqui comenta.
Mas falemos de Ruy Belo e a melhor forma de o fazer, é homenagea-lo com este excerto do “Missa de Aniversário” do “Aquele Grande Rio Eufrates”
[…] Já só na gravata te levamos morto àqueles caminhos onde deixaste a marca dos teus pés Apenas na gravata. A tua morte deixou de nos vestir completamente No verão em que partiste bem me lembro pensei coisas profundas É de novo verão. Cada vez tens menos lugar neste canto de nós donde anualmente te havemos piedosamente de desenterrar Até à morte da morte
No auge da tempestade há sempre um pássaro para nos tranquilizar É a ave desconhecida Que canta antes de voar
René Char
de que vale a insistênciado teu nome nesta hora de irremediável fome em silêncio desço os degraus desta certeza amarga e toco o desalinho que me persiste da tua ausência.
Maré
.
Óleo imf (link)
o absurdo como silêncio a escrita como sangue a vida como recurso a fala o sentido o corpo lá fora o universo dos gestos subtraídos ao fogo. a tentativa de nomear só o essencial. um grito errante. sobre a tua pele. e os teus olhos. o meu sal.
Isabel Mendes Ferreira
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foto jsm (link)
Eu sei. Sei quem cantará os nossos silêncios, as nossas bocas mordidas, o nosso rasto de gazelas. Sei. Sei tudo o que te escondo de mim, sei tudo o que o fogo destrói, sei tanto, mas tanto, sei mais do que o que me dói.
Que fizemos os dois? Fizemos tudo o que a garganta contrai. Fizemos as contas e afinal, eu fiz, eu só, eu sei.
Eme
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foto jsm (link)
Procuro a cor da noite nos teus olhos
…
Procuro a cor da noite nos teu olhos, como quem lambe a lua, devagar. Depois, digo barco, digo mastro,digo quilha e somos ilha propícia a navegar.
8 comentários:
Origem: Site do Instituto Camões:
Ruy Belo nasceu em S. João da Ribeira, pequena aldeia do concelho de Rio Maior, em 1933. Foi aluno do liceu de Santarém e cursou Direito, primeiro na Universidade de Coimbra, depois na Universidade de Lisboa, onde se diplomou em 1956. De partida para Roma, doutorou-se em Direito Canónico na Universidade de S. Tomás de Aquino. Em Lisboa, viria a frequentar também a Faculdade de Letras, terminando em 1967 a licenciatura em Filologia Românica. Além de actividade no domínio editorial, Ruy Belo foi também professor. Leitor na Universidade de Madrid desde 1971, regressou ao país em 1977, vindo a falecer de modo súbito no ano seguinte.
Nome de destaque na poesia portuguesa contemporânea, exerceu igualmente intensa actividade de ensaísta e crítico literário. Da sua obra poética fazem parte Aquele Grande Rio Eufrates (1961), Boca Bilingue (1966), Despeço-me da Terra da Alegria (1977).
A Obra Poética de Ruy Belo encontra-se reunida em dois volumes publicados pela Editorial Presença, com organização e comentários de Joaquim Manuel Magalhães. Os livros do poeta estão a ser reeditados pela mesma editora. Um volume único com toda a obra poética, significativamente intitulado Todos os Poemas, foi ainda recentemente dado à estampa pelo Círculo de Leitores (2000) e pela Assírio & Alvim (2001).
com a marca de uma certa ironia e irreverência.
deixo aqui um poema de Ruy Belo que eu gosto muito:
"Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração"
um abraço.
a escolha da solidão partilhável nos ramos da vida.
o que Ruy Belo sabia de saber por dentro os ângulos de todos os sentimentos .
a referência de um romantismo aberto ao seu tempo que afinal é sempre o de todos nós____________navegantes de esquinas e de labirintos.
gosto muito.
e dos barcos em assimetria.
beijo.
P.s.
mas uma assimetria "secante"...
belo o exercício desta ilustração.
Oh Ruy Belo
que encantado ficarias
se pudesses ver os contemporâneos
que eu vejo.
Como gostarias de te cruzar com a beleza de IMF,
segredar-lhe "bom dia Poeta, vim escutar-te
como outros me escutaram a mim."
Fico por aqui. Obrigada.
Abraço JSM
as esquinas
onde a noite é o ângulo mais frio da terra. uma escarpa, gradual e dilatada, onde jaz um amontoado de vozes.
Obrigado JSM
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e claro. gosto muito das suas fotos, ou não fosse eu uma filha do mar.
um beijo
Meu caro JSM, estou com um pequeno problema para resolver que é este: Já não sei se venho aqui pelas suas escolhas poéticas, se pelas suas fotos, ou se, simplesmente, só cá venho para encontrar esta gente bonita e talentosa que aqui comenta.
Mas falemos de Ruy Belo e a melhor forma de o fazer, é homenagea-lo com este excerto do “Missa de Aniversário” do “Aquele Grande Rio Eufrates”
[…]
Já só na gravata te levamos morto àqueles caminhos
onde deixaste a marca dos teus pés
Apenas na gravata. A tua morte
deixou de nos vestir completamente
No verão em que partiste bem me lembro
pensei coisas profundas
É de novo verão. Cada vez tens menos lugar
neste canto de nós donde anualmente
te havemos piedosamente de desenterrar
Até à morte da morte
Foi um prazer passar por aqui. obrigado pelas palavras
Um abraço
Chris
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