O que ata ou desata a linha vaga e breve, intensa e clara ideia do que é ou deveria ser o silêncio?
O que é exactamente a pintura, a “habitabilidade gestual”, o talento, a Arte em si mesma?
Em que margem desassossegada se instalam os ritmos certos do que é e do que parece ser? Ou se quiserem, do que é aparência intencional e do que foge à retórica estilística?
Perguntas às quais nenhuma paleta responde. Perguntas que só fazem sentido enquanto isso mesmo: interrogações sobre um caminho vivido sempre a sós. Como ostensiva e serenamente faz Maria Amaral.
Uma Pintora que troca o lugar do silêncio, que abre as portas da solidão, que investe no rumor do azul quase pálido, que nos inquieta. Uma Pintura onde o espaço não tem mancha, onde as manchas invadem o nosso espaço de sonhar. E sempre o silêncio a bater nas arestas, e sempre um horizonte afogado de cinzas que nos apertam, de rosados estrangulados a quererem saltar, ora de um Alentejo ora de uma cosmopolita Nova Iorque.
Maria Amaral não facilita, não se desvenda em aventuras cromáticas fortuitas, não descura a forma, não aveluda as esquinas.
Maria Amaral trata com secreto pudor a dor maior do silêncio. E nele nos perdemos de tanto procurar o que existe de comum entre lugares tão separados quanto colados, e afinal, o que nos aproxima é uma arte pessoalíssima: a Arte de pintar o invisível, a Arte de arrebatar o ventre da cal à cal do silêncio.
Nesta Pintora, que não se mede por “modismos”, mede-se a distância. A terrível e fascinante distância do amor. Maria Amaral anda à solta por dentro das raízes. Deixemo-nos pois guiar nesta doce invisibilidade onde ainda nos é permitido imaginar a tela de um amanhecer. Que importa o lugar? Ela devolve-nos à pureza de um tempo sem limites!
Isabel Mendes Ferreira / Galeria JE 1997
10 comentários:
?????????????????????????????
Admirável esta forma de nos "dar" a alma da artista.
Um beijo à Isabel
Um abraço JSM
Isabel Mendes Ferreira.
Caríssima Poeta vai-me desculpar, mas encontrar boa pintura com palavras suas é motivo para postar.
O meu sentido e reconhecido agradecimento pelas suas visitas a este espaço.
Agradeço também aos outros amigos e amigas que não desistem de aqui deixar as suas maravilhosas palavras. Acreditem que é uma alegria de cada vez que aqui cai um comentário
Obrigado a todos e um enorme abraço.
E fez muito bem JSM eu não conhecia.
E conhecer com a análise profissional da Isabel é meio caminho andado para um melhor e mais correcto conhecimento da obra da Maria Amaral.
Obrigado por isso.
Forte abraço.
Por ter gostado das obras que aqui nos deixas, ainda para mais por ter merecido a honra da "análise clínica" da nossa querida Poeta, fui pesquisar a pintora e foi uma boa surpresa. A sua obra é vasta e maravilhosa. Amei.
abraço aos dois...três.
um escancarar investido sempre de azul
franqueadas janelas ao olhar...
conhecia (conheço) pouco de Maria Amaral, tropecei um destes dias com algumas telas num blogue.
.
e a apreciação diz tudo
ou não fosse de uma arqitecta do traço, ramal do sangue que pulsa
na palavra, na tela.
Obrigado JSM
Origado Isabel
e soubesse eu dizer como se desmonta o silêncio, pertença desse ilimitado toque aportado no coração.
assim, feito de um impulso que se rasga de carinho... deixo um beijo
pontuado de timidas sílabas.
E aqui encontro um concorrente cada vez mais forte.
Querido JSM
a pintura de Maria Amaral mostrada nas palavras da Poeta IMF ganha outra dimensão.
Um beijo e re.beijo a todos.
bom ...se serviu para que a Maria Amaral seja mais re.conhecida....:) valeu.
bom dia a este Porto onde se amarram tantos remos ....
.
não conhecia. o que eu andava a perder!
a pintura e as palavras numa cumplicidade perfeita!
obrigada JSM.
Só podia ser... Vim pela mão da senhora das palavras. Em boa hora! Parabéns!
:)abraço
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