24.10.09

Jacques Prévert (França)

         
    



Óleo de Isabel Mendes Ferreira
    
    
     



O Pintor, o pássaro e a gaiola


Primeiro pinte uma gaiola com a porta aberta
Depois pinte
algo gracioso,
algo simples,
algo bonito
algo útil
para o pássaro.
Então encoste a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta.
Esconda-se atrás da árvore
sem falar
sem se mover...
Às vezes o pássaro aparece logo
mas ele pode demorar muitos anos
antes de se decidir.
Não desanime.
Espere.
Espere durante anos se necessário.
A rapidez ou a lentidão do pássaro
não influi no bom resultado do quadro.
Quando o pássaro aparecer
se ele aparecer
observe no mais profundo silêncio
até o pássaro entrar na gaiola.
E quando ele entrar
delicadamente feche a porta com o pincel.
Então
apague uma a uma todas as grades
tomando cuidado para não tocar
na plumagem do pássaro.
Em seguida pinte a árvore
escolhendo o mais bonito dos seus galhos
para o pássaro.
Pinte também a folhagem verde
e o frescor do vento
o dourado do sol
e a algazarra das criaturas na relva
sob o calor do verão.
E então espere até que o pássaro decida cantar.
Se o pássaro não cantar
é um mau sinal,
um sinal de que a pintura está ruim.
Mas se ele cantar é um bom sinal,
um sinal de que você pode assinar.
Então, com muita delicadeza,
você arranca uma das penas do pássaro
e escreve o seu nome num canto do quadro.
    
    
    

8 comentários:

José da Silva Martins disse...

Origem: Wikipédia

Jacques Prévert (4 de fevereiro de 1900 — 11 de abril de 1977) foi um poeta e roteirista francês.
Após o sucesso da sua primeira coletânea de poesias, Paroles (1946), Prévert torna-se um grande poeta popular, graças à sua linguagem familiar, seu senso de humor, seus hinos à liberdade e ao jogo que faz com as palavras. Seus poemas passam a serem estudados em todas as escolas francesas do mundo, conquistando o reconhecimento internacional.
Poeta e roteirista, Jacques Prévert ironiza os usos e costumes, o clero, a igreja. Cria os roteiros e diálogos de grandes filmes franceses pertencentes à escola do realismo poético, realizados em sua maioria por Jean Renoir e Marcel Carné.
Compositor, ele escreve a música "Les Feuilles Mortes", que foi muito famosa em seu tempo, na voz de Ives Montand. Mais tarde, Serge Gainsbourg compôs uma música chamada "La chanson de Prevért" que faz referência à canção citada mais acima.

PS: Espero que a Escritora, Poeta e Pintora Isabel Mendes Ferreira mais uma vez me desculpe por usar material seu sem a devida autorização.

maria josé quintela disse...

fico sem palavras.


a sentir-me pássaro e mão.





só acrescento: uma justa e belíssima ilustração!



abraço e obrigada.

José Pires F. disse...

Este já conhecia, é fantástico.

Quanto ao excelente óleo da Isabel só posso dizer que fica aqui muito bem.

Não sei é se ela o vai desculpar, mas isso...
:)

Forte abraço.

Isabel disse...

digamos que Prévert merecia melhor "ilustração"....


enfim....azares....


reais.


. bom dia JSM.

maré disse...

eu digo: que conjunto perfeito!

ou não fosse a liberdade(também a da criação) a casa mais que perfeita para a luz das asas
.
.
.

e multiplico a ternura

Maresias disse...

O pássaro da alma...

um poema que adoro.

Felizmente já me tinha sido oferecido por um amigo muito especial.

Eu aguardo com o pincel pronto para pintar o mais bonito galho da minha árvore.

Abraço

Maresias disse...

A Poeta já o pintou e este óleo é bem prova disso.

Parabéns pela escolha.

Um beijo para a Poeta

Ana Oliveira disse...

Certamente a tela que ilustra este poema foi assinada com a pena de um pássaro feliz!

Beijo
Beijo

Ana